A Bicha Serpe das Festas do Corpo de Deus de Penafiel
A serpe ou bicha serpe representa o Dragão, símbolo do mal, a que se refere o Apocalipse de S.João (12, 3-4); e que tem raízes no antigo testamento, quando Daniel matou o dragão (símbolo do demónio), que os babilónios adoravam.
Na nossa terra, ainda em tempos de Arrifana de Sousa, no último quartel do Século XVII, a serpe apresentava-se, na secular procissão do Corpo de Deus, com a forma de um dragão de grande bojo de invulgar informidade, coberto de um pano verde pintado de escamas, com cabeça de madeira de comprida bocarra, de onde lhe saía uma língua bifida de cor de fogo. Era puxada por uma corda pelo juiz ou mordomo, que assim a levava de rastos, à frente da procissão, ao longo das ruas do povoado.
E, no decurso de duzentos longos anos, assim se conservou a tradição da velha e medonha bicha, que chegava a ser número isolado no programa dos festejos populares (no alvorecer do século XX, ao meio-dia da véspera do Corpo de Deus, ainda era costume ver-se o espectáculo da bicha serpe, colocada no átrio do palácio do município, a espreitar pela porta, arrogante e ameaçadora, com o seu juiz espalhafatosamente fardado, fazendo guarda ao descompassado mostrengo). Contudo, cerca do final da década de trinta, caiu em desuso, tendo desaparecido do programa oficial das festas e deixado de figurar no cortejo profano da procissão.
Mas volta de novo a aparecer, no ano de 1989, com uma moderna e última invenção, que é a actual.

E assim se reatou, e ainda bem, uma vetusta tradição da nossa terra, que esteve na iminência de se perder, não fora a vontade esclarecida e a firme determinação das mais recentes comissões organizadoras das festas do Corpo de Deus e da Cidade de Penafiel.
Joaquim José Mendes in "Dias Festivos- O Corpo de Deus em Penafiel "- cadernos do museu.
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