Penafiel Há Cem Anos- As Feiras de São Martinho

As feiras de S.Martinho, são antiquissimas. Penafiel tem como orago da sua freguesia- S.Martinho de Tours.
Este santo nasceu na Hungria, talvez pelo ano 317 D.C., foi soldado, fez vida monástica, e veio para Poitiers, onde esteve junto de S.Hilário, e depois foi eleito Bispo de Tours (França). Terá falecido em 397 D.C.
Iconograficamente, tanto aparece como legionário romano a pé ou num cavalo branco, ou como Bispo com mitra e bácuo.
Teve uma vida modesta e terá partilhado em pleno inverno a sua capa com um mendigo, segundo a tradição.


A Feira de São Martinho, na idade média, foi associada à festa litúrgica no dia 11 de Novembro, depois o aspecto profano tornou-se mais forte e será de considerar que a feira possa ter início desde a fundação da Igreja de S.Martinho de Moazares, no Século XI (Diplom. et chart. 1049), depois na de S.Martinho de Arrifana, ou Arrifana de Sousa, e S.Martinho de Penafiel em 1770. (...)

(...) Não existe nenhum documento régio a marcar o início das feiras.
No Entanto, no foral de Penafiel, (1519) concedido por D.Manuel I, são referidas as Feiras de São Martinho em Novembro.
Em 1569 realizaram-se as cerimónias litúrgicas com a imagem de S.Martinho na ampliada Igreja Matriz.
Em 1563, os dias de feira duravam do dia 10 ao dia 15. Em 1758, a feira durava 8 dias. As duas feiras mensais nessa época eram no dia 10 e 24. Depois passou a ser entre o dia 10 e 20 de Novembro.
No reinado de D.Pedro V, deflagrou uma "peste"nessa época, e as feiras foram proibidas, mas a população passou a realizá-las a 10 e 11 de Abril, e assim nascia, o "S.Martinho de Abril".
Mas, é em Novembro o tempo que melhor se enquadra na imagem de S.Martinho, é o começo do inverno, com a trégua de "verão", é a matança do porco, são as castanhas como fruta da época, e
e a "prova do vinho" novo.
Daí que, na feira, se transacionassem e transacionem os agasalhos, cobertores, samarras, capotes de pano, e de palha, bonés de orelhas, tamancos, chancas, botas, meias, guarda-chuvas, chapéus, coletes, camisas, fazendas, louças, miudezas, quinquilharia, ourivesaria, bonecos de madeira, e de barro, cestos de vime, violas e cavaquinhos, etc.
São os rojões com batatas aloiradas, as castanhas assadas que se "afogam" com o verde carrascão servido em canecas, nas tabernas e tendas da feira com pipas enfeitadas com ramos de louro, e no tecto das casas de comes e bebes, salpicões e presuntos dependurados.
Enquanto se cantava ao som de uma viola ou dum cavaquinho.
Para os trabalhos agrícolas eram "ajustados" os moços de lavoura, mediante um soldo e peças de vestuário e calçado.

À feira chegavam grande quantidade de gado cavalar  e bovino.
Há pouco mais de um século, segundo Coriolano de Freitas Beça a feira "estendia-se com barracas no largo dos chãos (Praça Municipal), até ao quartel e calvário, com tendas sobre as mesas de tábuas e bancos".


Nessa época "afluiam à feira de S.Martinho gente rica de muitas léguas em redondo" chegavam "com as suas famílias e arrendavam casa para dez ou quinze dias". Nos primeiros dias de feira a "afluência era enorme e era preciso passar a rua com cuidado para não ser atropelado por cavaleiros". E, à noite havia diversões com corrida de cavalos com circo e artistas.
Modernamente, a feira de S.Martinho, mantém a sua tradição, e é feriado municipal, continua a ser a grande enchente, a grande feira do Norte do País, com a animação nos dias 10, 11, 12 e 20 (o Domingo das prendas e concurso das quadras do Notícias de Penafiel) com grandes engarrafamentos, e longas horas, para atravessar um itinerário circundante à cidade."


Texto do Livro-Penafiel Há Cem Anos- 1- do Professor José Coelho Ferreira

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