Festas do Corpo de Deus pelo Olhar das Crianças- O Cortejo do Carneirinho

A rúbrica "O Corpo de Deus pelo Olhar das Crianças" vai abordar as principais tradições das Festividades de Penafiel através das crianças das escolas. 

Textos e ilustração partilhados do Livro "O Corpo de Deus em Penafiel- do Museu Municipal de Penafiel" 

Textos- Alunos de Centro Escolar de Cans, de Abragão e de Cabeça Santa; Escola Básica de Lomar de Boelhe e de Peroselo


"Numa tarde de primavera, andava o senhor Joaquim a apascentar a suas ovelhas quando o seu neto, o Carlos, um menino muito curioso, depois de terminar as aulas, foi ter com ele ao campo.
– Olá, avô!
– Olá Carlos.
Já terminaste a escola? – perguntou o avô.
– Já avô! E tu, já vais encerrar o rebanho?
– Já. Por hoje já pastaram o suficiente!
– Olha avô, hoje lá na escola a professora falou de uma tradição que se costuma fazer, pela altura do Corpo de Deus, que é o Cortejo do Carneirinho. Tu também participavas, na tua altura?
– Sim Carlos. Essa festa é muito antiga e faz parte das tradições do nosso concelho! É uma tradição única no nosso país.
– Avô, fala-me mais dessa festa...
– Vamos para casa e lá conto-te tudo...

O Carlos e o avô chegaram a casa e, após um merecido lanche, continuaram a conversa sobre o Carneirinho.
– Quando eu andava na escola primária, à qual vocês agora chamam de escola do primeiro ciclo, na aldeia onde nasci, os nossos pais levavam-nos em cortejo, até à cidade. Compravam um carneirinho, enfeitavam-no com florinhas de papel, decoravam um cestinho com produtos da terra e ofereciam tudo à senhora professora, como forma de gratidão pelo carinho, dedicação e educação que esta nos dava. Esse cortejo realizava-se no dia anterior ao feriado do Corpo de Deus, que é uma grande romaria das nossas gentes.
– E como é que vocês iam até à cidade? – perguntou o Carlos.
– Íamos a pé, pois não havia transportes como hoje em dia. Era um dia de grande alegria. Cantávamos e exclamávamos frases como: “Viva a professora! Viva a nossa escola! Viva o carneirinho! Parabéns, professora! Obrigada professora!” Estas frases eram escritas em cartolinas.
 – Porquê um carneirinho? – insistia o rapaz, muito curioso.
– A professora recebia o carneirinho que, depois, servia de alimento para ser degustado nas Festas da Cidade e do Concelho. E, como forma de agradecimento, a professora dava-nos um lanche em sua casa, com muitas guloseimas. Era mesmo divertido!!!
– Oh avô, tu disseste que durante o cortejo cantavam quadras. Lembras-te de algumas?
– A minha memória já está um pouco fraca mas a tua avó ainda as sabe de cor.
– Avó canta lá umas quadras, para mim.

 Então, a dona Alzira, a avó, uma senhora sempre sorridente, começou a cantar algumas quadras:
“Ao entrar na relva
Achei um carrinho
Com letras que dizem
Viva o Carneirinho!

Ao brincar na relva
Achei uma bola
Com letras que dizem
Viva a nossa Escola!”

– Que engraçado! – exclamou o neto, contente.
Carlos continuou com o seu interrogatório:
– E agora, ainda fazem essa festa?
– Claro que sim! As crianças vão para o Cortejo do Carneirinho, em Penafiel, só que já não vão a pé. Agora está tudo mais moderno! Vão em carrinhas, enfeitadas, com os cartazes com aquelas frases todas. As carrinhas chegam ao Largo da Feira, passam pela rua principal da cidade, pela Câmara Municipal, onde está o senhor presidente e a sua equipa a ver, passam pelo Largo da Ajuda e pelo edifício do Museu Municipal de Penafiel.
– Os passeios devem estar a rebentar pelas costuras, com muita gente a ver…
– É verdade, muitas centenas de pessoas concentram-se para poder ver o cortejo. O nosso concelho é muito rico em tradições. É através destas manifestações, destas memórias do povo, como romarias, costumes, cantares, entre outras, que ficamos a conhecer a nossa identidade como povo de uma região ou país.
O rapaz, cada vez mais fascinado com esta riqueza cultural, continuou a questionar os avós:
– Fala-me da Festa do Corpo de Deus em Penafiel, avô.
– A Festa do Corpo de Deus é muito linda. Há uma grande procissão, que começa na Igreja Matriz e vai até à Igreja do Sameiro. A procissão tem muitas figuras e leva muito tempo a passar.
– Muito interessante. Sabem, acho que vou fazer uma visita ao Museu de Penafiel. Lá posso ver muitas coisas antigas que se faziam na nossa região. E quando se realizar o Cortejo do Carneirinho também quero ir ver.
– Boa ideia Carlos. Nós iremos contigo ao museu e assistir ao desfile do Carneirinho. Assim vamos reviver essas tradições. – sugeriram os avós.

– Que bom! Vou tirar muitas fotografias e mostrá-las aos meus colegas da escola, sobretudo ao meu amigo Tomás. Ele anda a estudar na minha escola e não conhece nenhuma tradição da nossa terra. Assim, ficará a conhecer duas de várias tradições que fazem parte da nossa identidade penafidelense!

Passadas algumas semanas realizou-se a Festa do Corpo de Deus, com a tradicional procissão e com o Cortejo do Carneirinho. O Carlos e os avós misturaram- -se na multidão, que se apinhava nos passeios, e puderam admirar momentos únicos da tradição do seu concelho, que é Penafiel. Foi um fim de semana bem passado!"


Comentários