Festas do Corpo de Deus pelo Olhar das Crianças: A Cavalhada | Parte 2

Festas do Corpo de Deus pelo Olhar das Crianças das Escolas do Concelho de Penafiel

Publicações do Livro do Museu Municipal de Penafiel- O Corpo de Deus em Penafiel
Textos-Centro Escolar de Penafiel; Escolas Básicas de Milhundos;  Souto;  Croca;  Pedrantil;  Regadas; S. Martinho; Castelões e  do Cruzeiro


A SECULAR CAVALHADA | PARTE 2
Continuação da conversa entre uma criança e a mãe

A saudação declamada em 1884, que ainda era utilizada em 1926, quando Abílio Miranda fez recolher à Biblioteca Municipal a cartolina em que estava escrita, compõe-se de três décimas de esquema rimático desigual. Como não tem dedicatória personalizada pode recitar-se anos a fio, e repete-se ainda hoje:
“Por entre louca alegria, 
O entusiasmo, a devoção 
Que a magnitude do dia
 Nos vem pôr no coração,
 Venho altivo e contente,
 Em nome da boa gente 
Que sabiamente regeis, 
Prestar-vos grande preito 
D´homenagem e respeito, 
Que só se presta aos reis. 

A quem sempre tem pugnado 
Pelos interesses do povo
 Venho agora, de novo, 
Prestar-lhes veneração. 
Neste meu arrazoado 
Não há palavras banais. 
Há ecos bons e leais. 
A verdade incontestável, 
O sentimento invejável 
Do nosso bom coração

Um viva, pois, boa gente, 
Aos nossos bons protetores! 
Aos ilustres vereadores 
Desta fiel cidade 
Curvando-nos reverentes 
Perant’êstes bons senhores. 
Não lhe prestamos favores, 
Prestamos-lhes a homenagem, 
Que é como uma imagem 
O símbolo da lealdade.” 

Após este espalhafatoso número das festas, entravam a exibir-se, à vez, cada um dos bailes. Os Mestres das respetivas danças, à medida que iam atuando, ofereciam flores ao Presidente da Câmara…
– Onde está o meu cesto das flores? Será que a avó se esqueceu?
– Sossega…
Com a mão direita remexi e voltei a remexer os cereais de chocolate, na tigela branca, com gatos pretos sorridentes enroscados em macios tapetes vermelhos, que o tio Francisco me ofereceu pelo sétimo aniversário. O tilintar da colher, na tigela de porcelana ecoava por toda a cozinha.
 – Então?
– Desculpa, estava a pensar se a variedade floral também existia no século dezanove…
– Claro que sim, usavam-se as flores disponíveis na época, e olha que nesses tempos eram obrigados a contribuir para a realização das Festas do Corpo de Deus todos os indivíduos que, pelos seus ofícios, se encontravam integrados (ou se poderiam vir a integrar) nas antigas corporações medievais. A sua contribuição, para além do aspeto monetário, consistia essencialmente na obrigação de apresentar uma dança ou baile que representasse a atividade artesanal da referida corporação, o que acabava, também, por ser uma forma de louvar a Deus…
 E continuou:
– Esse Baile das Floreiras e todos os outros, únicos no país, que se mantiveram ao longo dos anos, como o dos Ferreiros, dos Pedreiros, dos Turcos, dos Pretos ou dos Pauzinhos, são um exemplo de preservação do nosso património, da nossa identidade e da nossa memória cultural.
– São muitos…
– É verdade, mas isso já é outra história…

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