Penafiel | Altar de Nossa Senhora do Carmo foi alvo de restauro

O Altar de Nossa Senhora do Carmo, na Igreja da Ordem Terceira do Carmo da Cidade de Penafiel foi alvo de uma intervenção de conservação e restauro.
O Riquezas e Tradições de Penafiel esteve à conversa com a Dalmática, empresa responsável pela intervenção no retábulo neoclássico desta igreja da Cidade.

Breve descrição da peça
Dalmática: "Retábulo neoclássico de estrutura simples constituído por: mesa, banqueta, predela, corpo central e ático. No nicho central pode contemplar-se o conjunto escultórico que representa Nossa Senhora do Carmo a entregar o escapulário a São Simão Stock. A sua policromia é em tons monocromáticos com excepção das colunas e rodapé que estão executados com pintura de imitação de pedra (marmoreados) e o fundo do nicho central no qual se observa um céu com nuvens." Em que estado encontraram o Retábulo de Nossa Senhora do Carmo? O suporte lenhoso encontrava-se em mau estado de conservação apresentando patologias associadas ao ataque biológico.
Fotografia- José Francisco- Ordem Terceira do Carmo-Penafiel
Este tipo de ataque tem graves consequências ao nível do suporte pondo em causa a estabilidade do mesmo, fragilização do material lenhoso, perda de material e deformações ao nível das ensamblagens são os danos mais significativos. Eram visíveis deformações estruturais causadas pelo envelhecimento natural dos materiais e pelos movimentos de dilatação e contração associados às condições ambientais (humidade relativa e temperatura). Fissuras, fendas, fragilização dos sistemas de ensamblagem, destacamento de elementos e perdas volumétricas são as consequências destes fatores de degradação. Outro dos fatores associados a degradação do suporte são os produtos de corrosão que advêm dos elementos metálicos utilizados para a execução do retábulo e todos os outros colocados ao longo da sua vida.


Que patologias e danos encontraram? • Deformações devido a movimentos estruturais; • Lacuna de suporte; • Perda de coesão; • Ataque por xilófago; • Sujidade aderente e acumulada; • Elementos metálicos oxidados; • Junções abertas, fendas e fissuras; Revestimentos do retábulo: Camada Preparatória: através das lacunas existentes da camada pictórica pode visualizar-se que a camada de preparação é de tonalidade branca, e espessura irregular, sendo visíveis diversas lacunas da mesma, por todo o conjunto. Esta será provavelmente à base de sulfato de cálcio ou carbonato de cálcio e cola animal. Apresenta diversas zonas de destacamento e em risco de destacamento. Camada pictórica e douramento: a camada de policromia foi realizada com recurso a uma paleta monocromática à excepção das colunas e rodapé do retábulo que apresentam, uma policromia de imitação de pedra(marmoreados); as zonas de douramento foram executadas através da aplicação de folha metálica dourada sob a técnica de mordente. Patologias e danos presentes: • Manchas de óxidos de ferro devido a elementos metálicos em processo de corrosão. • Perda de policromia e douramento associada à corrosão de elementos metálicos; • Falta de coesão entre as camadas preparatória e pictórica que dá origem a lacunas e bolsas de destacamento; • Fissuras e microfissuras; • Desgaste e abrasão da camada de douramento e policromia; • Lacuna de policromia, potenciada pelo ataque biológico. • Sujidade múltipla proveniente de poeiras acumuladas, deposição de resíduos atmosféricos, fumo, excrementos de animais; • Repintes pontuais alterados
Fotografia-Ordem Terceira do Carmo
Quais os critérios de Intervenção neste retábulo? Nesta intervenção tivemos como objetivo seguir princípios básicos deontológicos da conservação e restauro, onde se respeita o autor e a sua obra sem a alterar, pretendendo apenas conservar, preservar e valorizar uma obra que perdeu a sua unidade potencial. Esta proposta cingiu-se à conservação e restauro das áreas degradadas permitindo que a obra recupere a sua estabilidade física e leitura estética recorrendo a processos eticamente aceitáveis. A escolha e respetiva utilização de materiais e técnicas durante a intervenção vão ser cuidadas, tendo sempre em mente alguns fatores, como a reversibilidade, estabilidade e durabilidade. Será também realizado um estudo prévio das causas e fatores de degradação, dado que na grande maioria dos casos a prevenção para futuros danos na obra passa pelo controlo, e sempre que possível na eliminação dos fatores de degradação presentes. Conheça o processo de intervenção da Dalmática-Conservação e Restauro: SUPORTE: • Remoção do sistema eléctrico que se encontra ancorado ao retábulo • Desmonte da estrutura retabular. A Dalmática propõe o desmonte total do conjunto, de forma a permitir um tratamento completo e eficiente ao nível do suporte, caso contrário diversas zonas ficariam inacessíveis, não se podendo garantir o seu estado de conservação. Desta forma poderão ser revistos, avaliados e tratados todos os pontos de entrega e de contacto dos elementos estruturais com a alvenaria e o pavimento. • Marcação e catalogação de todos os elementos. • Limpeza mecânica superficial de todo o conjunto. • Desinfestação preventiva e curativa – será realizada em todo o suporte incluindo todas as madeiras aplicadas durante o processo de conservação e restauro do conjunto, através da aplicação de um inseticida e fungicida do tipo Xilofene SOR 40 Profissional ou equivalente. • Consolidação - restabelece a resistência do material fragilizado, provocada pelo ataque de insetos e microrganismos e outros fatores externos ao material, esta será realizada com Paraloid B72 (Copolímero de etilmetacrilato e metilacrilato. É uma resina estável usada na conservação em geral. É durável, não amarelece e é compatível com outros materiais que formem filmes. Não está sujeito a ataques de microrganismos. É solúvel em tolueno, xileno, etanol, acetona, etc. Pode ser aplicado como a adesivo e como camada de proteção. • Integração funcional com substituição de pregos / cavilhas que se encontrem danificados e oxidados, estes serão substituídos por parafusos inoxidáveis ou por cavilhas de madeira. Os elementos metálicos que ainda cumpram a sua função serão devidamente limpos e tratados com um inibidor de corrosão. Os inibidores de corrosão são substâncias que, adicionadas em concentrações adequadas, no meio corrosivo, minimizam a velocidade de oxidação do metal exposto a esse meio agressivo, quer seja gasoso, aquoso ou oleoso. Os mecanismos de atuação dos inibidores de corrosão estão baseados na formação de uma barreira ou filme na superfície do material, que impede ou retarda as reações de oxidação do metal base. • Fixação de elementos soltos com recurso a cavilhas de madeira ou parafusos inoxidáveis mediante as necessidades dos elementos, o adesivo para as colagens será um Acetato de Polivinil Neutro. • Reconstituição de lacunas volumétricas que interfiram com a integridade física da obra e/ou com a sua leitura estética com madeira de boa qualidade compatível com a madeira original. As lacunas de menor dimensão serão colmatadas com resina epóxida. • Reforço da estrutura de suporte com a criação de novo sistema de fixação e sustentação do retábulo se necessário.
Altar depois do restauro. Fotografia- José Francisco da Ordem Terceira do Carmo
REVESTIMENTOS: • Prefixação de todo o conjunto • Limpeza mecânica com trinchas de cerdas macias e com o auxílio de sistema de aspiração controlado; • Fixação das camadas superficiais de forma a repor a aderência entre as camadas pictórica e preparatória e entre estas e o suporte; • Testes de solubilidade com vista á limpeza da policromia e á remoção pontual de repintes - atualmente, a selecção dos solventes que serão utilizados na limpeza de qualquer obra de arte, é realizada a partir de testes de solubilidade, estes utilizam um número muito limitado de solventes, especialmente escolhidos pela sua eficácia na solubilização de determinados materiais, com o menor efeito tóxico para o Conservador-restaurador. Os métodos mais utilizados para a seleção de solventes são: Testes de R. Feller, R. Wolbers e P. Cremonesi. • Limpeza química após testes de solventes – os testes prévios à limpeza dão ao conservador-restaurador uma maior segurança na escolha dos solventes a utilizar durante a limpeza e remoção de repintes, identificando os que se revelam mais eficazes na remoção e os que menos agridem a camada original. Para diminuir a possibilidade de causar danos na obra pela rápida absorção dos solventes e pelos seus efeitos residuais estes serão utilizados aglutinados num Gel. Este sistema diminui consideravelmente a penetração dos solventes concentrando a sua ação na superfície, salvaguardando desta forma as camadas subjacentes. • Reintegração pontual de forma a melhorar a leitura do conjunto • Aplicação de uma nova camada de proteção - na grande maioria dos casos, este tipo de conjuntos são tradicionalmente envernizados, considerando-se que se trata de uma fase de acabamento que contribuirá para uma melhoria estética da obra proporcionando um certo brilho e intensidade às cores. Para além de que o verniz forma uma camada de proteção contra a ação fotoquímica da luz visível e da radiação ultra violeta, preservando as cores. Também isolam a policromia dos agentes químicos e biológicos do ambiente, da humidade e do pó e retardam a oxidação das camadas subjacentes causada pelo oxigénio presente no ar. Tendo em conta que os vernizes se degradam facilmente, é necessário em muitas ocasiões remove-los através da limpeza e aplica-los novamente para que seja restituída a camada de proteção, e o aspeto característico do conjunto. Desta forma deveria envernizar-se com o mesmo tipo de material empregue originalmente, para ser o mais fiel possível ao aspeto original. Conhecendo através dos tempos os problemas de conservação das resinas naturais, atualmente recorre-se ao uso de resinas sintéticas (mais estáveis e com resultados satisfatórios) ou a certos aditivos, soluções mais duradouras que vieram responder aos novos critérios de conservação. Neste caso concreto optar-se-á pelo uso de uma resina natural de baixo peso molecular, esta apresenta uma grande vantagem em relação às resinas sintéticas que é o facto de a sua solubilidade aumentar com a sua oxidação, o que facilitará a sua remoção quando se encontrar alterada. A esta serão adicionados dois aditivos, uma amina estabilizadora Tinuvin 292® adicionada para melhorar a estabilidade fotoquímica da resina em relação á radiação ultra violeta e ao oxigénio. Este deve ser adicionado a uma percentagem variável entre os 2 e os 3% do peso da resina, e Kraton G 1657® tem a função de plasticizante, ajudando a tornar o filme menos quebradiço, aumenta ainda a resistência a abrasão e melhora a aplicação; • Acondicionamento, transporte e montagem de toda a estrutura retabular.





Após o restauro deste altar, a Ordem Terceira do Carmo vai continuar a restauro e conservação da Igreja. O próximo altar a ser intervencionado será o de Santo António.

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