Festas do Corpo de Deus pelo Olhar das Crianças | A Majestosa Procissão

“Aqui vamos contar a história 
De uma pérola da nossa cidade. 
Tudo começou em 1540 
Com desejo de eternidade. 

Uma festa muito católica 
Que a todos faz espantar, 
Vem gente de todo o lado
 A procissão admirar. 

Procissão do Corpo de Deus, 
Que enche a cidade de alegria, 
Onde o povo pode venerar 
A santíssima eucaristia. 

 Em procissão seguem também 
Trinta e oito cruzes enfeitadas. 
Representam as freguesias 
Pelo povo muito amadas. 

Pelas mãos do Senhor Bispo 
Segue um símbolo sagrado 
Carregando o nosso Cristo, 
Num ostensório dourado. 

Aqui segue também 
Uma comitiva de cavaleiros 
Vestida à século XV 
Com ares aventureiros. 

O Carro Triunfal, 
Os Bailes Tradicionais,
 A Bicha Serpe 
E o Boi Bento 
Encantam os demais. 

Ao som da banda de música 
Sai a procissão da Igreja Matriz. 
Percorre as ruas da cidade 
Com um destino feliz.

O Santuário do Sameiro, 
É esse o destino final. 
Soltam-se as pombas brancas 
Nesse dia especial. 

E para finalizar, 
Em jeito de magia, 
Estouram foguetes no ar 
Entoando alegria.” 
Um dia, no nosso Centro Escolar, ouvimos uma história que nos encantou! Falava de uma festa, do “Corpo de Deus”, na linda cidade de Penafiel.

Pés a caminho, aí fomos nós! Nem tudo foi fácil! À entrada da cidade deparámo- -nos com o trânsito cortado e logo alguém informou que ia sair a procissão, uma das maiores e mais belas do país, a encantar desde 1657. E lá fomos caminhando e ouvindo:
– Percorre toda a cidade, é composta por centenas de figurantes. Os quadros bíblicos vão todos representados, bem como as crianças da catequese, todas as instituições religiosas e sociais do concelho, e os bailes, únicos no país… E o mais importante, o Santo Corpo de Deus, que desde o Santuário da Senhora da Piedade abençoa toda a cidade e todo o concelho.

Ah! Agora entendemos o porquê de tanta confusão de trânsito e os aglomerados de pessoas que seguem até à cidade, o estalar dos foguetes, as decorações da cidade, o cheirinho a algodão doce, as bandas de música do concelho todas presentes!

Sendo Penafiel terra de gente acolhedora e simpática, lá nos foram explicando que poderíamos saber muito mais sobre o património da cidade, suas memórias e sua identidade se fizéssemos uma visita ao Museu Municipal, um dos melhores da Europa, referia alguém que ouvia a conversa!

O entusiasmo era tanto, as novidades mais de mil, eis que de repente alguém comentou:
– Silêncio, já lá vem a procissão!!!!

Aos nossos ouvidos chegou uma bela melodia: a música era ritmada, compassada, dolente, que apelava ao silêncio e à reflexão. Ouviam-se também os cavalos a marchar e a trotear acompanhando o ambiente.
Os transeuntes afastavam-se das ruas, apertavam-se nos passeios deixando passar o “Baile dos Ferreiros”, “Os Soldados Romanos”, “Os Centuriões e os Cruzados”, “Os Santos e as Santas”, “Os Mendigos e os Afortunados”…

Numa mistura de quadros religiosos, aparecem quadros profanos, fazendo-nos lembrar que o nosso povo é feito de muitas religiões e muitas culturas!


Surge, enfim, a contornar a curva onde nos encontramos, a procissão… mas o mais intrigante é que na frente, frenética, a Serpe, ou melhor, a Bicha Serpe, abria a majestosa procissão. A introdução desta figura profana na procissão remonta há muitos e muitos anos atrás, havendo uma mistura da imagem da serpente e do dragão desde o reinado de D. João I, uma vez que foi no seu reinado introduzida em algumas procissões religiosas a imagem de São Jorge, como defensor da fé católica. Em Penafiel não foi exceção, e a figura de São Jorge, santo venerado pelos portugueses desde a fundação de Portugal, e, em especial, desde a vitória da Batalha de Aljubarrota contra os castelhanos, também faz parte da procissão do Corpo de Deus.

A lenda de São Jorge e o Dragão terá a sua origem num antigo militar romano que viveu no século III e que se converteu ao cristianismo. O São Jorge, que simboliza o Bem, segundo a lenda terá morto o Dragão, símbolo do Mal, com a sua lança, evitando dessa forma a morte de uma princesa, levando muitas pessoas a seguir a religião católica como agradecimento desse feito.

Esta lenda terá chegado a terras de Penafiel há muitos anos atrás, uma vez que no já falado Museu Municipal, existe uma escultura em alto relevo do século XIV, com a imagem do cavaleiro a matar o dragão, escultura essa proveniente da fachada da Ermida de São Jorge, em Marecos.

Com o passar dos anos, todas as tradições se vão mantendo, e tal como diz na letra do Hino de Penafiel “De fidalgas tradições e pergaminhos, nosso orgulho e riqueza sem igual…”. Penafiel orgulha-se das suas tradições e do seu património, procurando preservá-lo.


A procissão ainda vai no adro… Imponente e luzidio, conduzido por uma lavradeira vestida a rigor, segue o Boi Bento, grande e pachorrento, com a cabeça enfeitada e no pescoço uma larga coleira com campainhas. Logo atrás o Carro Triunfal, uma espécie de trono, puxado por uma junta de bois com a figura simbólica da cidade no topo, um guerreiro apoiado na sua lança, empunhando um escudo com as armas da cidade. Nos degraus, sentadas, algumas crianças vestidas de branco, representando anjos, lançam sobre a multidão pétalas de flores.

A alegria também está presente, como não poderia deixar de ser numa procissão tão linda e importante. Nós gostamos do Baile dos Turcos, cujos participantes, caminhando lateralmente, embelezam com as suas vestes de guerreiros, predominantemente encarnadas a fazerem-nos regressar ao passado. Sempre acompanhados pelo som forte, cadenciado e melódico do clarim e do tambor, lá segue o Baile dos Turcos, parando aqui e acolá para fazer uma atuação, fazendo as delícias da população que entusiasmada, agradece sempre com grandes salvas de palmas.

Porém, com tanta beleza e simbologia retratada em cada pormenor, eis então que nos deparamos com o ponto mais alto deste dia, o centro, a passagem do Santíssimo Sacramento.

Debaixo do pálio, sustentado tradicionalmente por quatro ou seis varas, é transportado pelas mãos do Senhor Bispo, por intermédio de uma capa de asperges, um ostensório dourado que deixa visível a hóstia consagrada, para adoração dos fiéis e para dar a bênção eucarística. Sim, a importância do momento, o silêncio de cada gesto à sua passagem revelam que ainda permanece, em todos aqueles que acreditam, uma enorme paixão pela continuidade desta tradição.

Neste dia festivo toda a família se reúne à volta de um repasto próprio dos dias festivos, cumprindo-se a tradição do carneirinho assado no forno, e por onde quer que se passe, o seu delicioso odor invade as ruas da cidade e das aldeias. Ricos e pobres irmanam-se à volta de um mesmo cardápio, e o rei é o incontornável carneirinho.

 Noutros tempos, o comércio tradicional, vulgo “vendas”, também abria as suas portas para quem sentisse a urgência em saciar o seu apetite por este manjar. E assim, entre a alegria do reencontro de toda a família, é em torno da mesa que se satisfaz o apetite e as saudades de entes que por vezes há muito não se veem, e que muito se querem, aconchegando-se em simultâneo o estômago e o coração.

– E então porque é que o carneirinho é o rei? – quem não conhece a tradição faz esta pergunta.

Todos os anos o Município de Penafiel comemora o Corpo de Deus – Festas da cidade e do concelho. Estas contam com um leque diversificado de atividades, desde o tradicional Cortejo do Carneirinho, à Cavalhada e à majestosa Procissão do Corpo de Deus.

O Cortejo do Carneirinho é uma tradição centenária e única no país, que remonta ao ano de 1880 (século XIX), e que assinala o fim do ano letivo e o reconhecimento, simbólico, das crianças das antigas escolas primárias para com o trabalho dos seus professores. Na avenida principal da cidade desfilam dezenas de pequenos carneiros, embelezados com inúmeros arranjos e puxados pelos alunos dos jardins de infância e escolas do primeiro ciclo, que mais tarde são oferecidos aos seus professores, sendo um símbolo de gratidão e respeito.

No desfile predominam as flores de papel, de todas as cores, cobrindo as ruas de cor e alegria, para a delícia de miúdos e graúdos. Os alunos, orgulhosos, vestem também roupas de cores garridas, enquanto os grupos de bombos tradicionais de Penafiel vão ritmando o desfile. Alguns alunos exibem bandeiras, balões e cartazes com frases sobre os professores, ao mesmo tempo que cantam canções com letras alusivas ao carneirinho, à escola e “vivas” aos docentes. É a parte que as crianças mais gostam, poder gritar “vivas” àqueles que, durante o ano letivo, os incentivaram e ajudaram nos estudos, bem como ao famoso “carneirinho”:
 – “Viva o Carneirinho! Viva a nossa escola! Viva a nossa professora!…”

O cortejo acontece de forma espontânea, com a Câmara Municipal a ter uma intervenção muito residual. Toda a organização é feita pelas escolas, pelos pais e pela comunidade escolar do concelho, preservando assim uma entidade deste concelho. Registos desta tradição ficam perpetuados no Museu Municipal de Penafiel, tão rico em património e memórias penafidelenses.

Textos-Ilustrações
Livro- O CORPO DE DEUS EM PENAFIEL, do Museu Municipal de Penafiel

textos-Centro Escolar de Rans, Escola Básica do Cruzeiro, Escola Básica de Vila Verde, Escola Básica da Póvoa, Escola Básica da Torre, Escola Básica do Convento, Escola Básica da Boavista, Escola Básica de Covilhô, Escola Básica de Eirô 1, Escola Básica de Eirô 2, Escola Básica da Igreja


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