Festas do Corpo de Deus pelo olhar das crianças: A Cavalhada | parte 1

Festas do Corpo de Deus pelo Olhar das Crianças das Escolas do Concelho de Penafiel

Publicações do Livro do Museu Municipal de Penafiel- O Corpo de Deus em Penafiel

Textos-Centro Escolar de Penafiel; Escolas Básicas de Milhundos;  Souto;  Croca;  Pedrantil;  Regadas; S. Martinho; Castelões e  do Cruzeiro.



A manhã apareceu na janela, levantei-me e corri para o roupeiro. Afastei a pilha de cabides. Lá estava ele, semeado de pontos e rendas, com um belo laço que atava atrás da cintura. Que beleza! Dei-lhe um abraço. O barulho da porta do quintal empurrou-me para o dia. Desci as escadas de madeira a correr.
– É hoje! É hoje!
A minha mãe sorriu.
– Ainda é muito cedo.
– Vou ser um anjo, vou ser um anjo…
– Calma! Senta-te para comer os cereais!

Rodopiei à volta da mesa: as flores, as cores, a multidão e os sons que se faziam nas ruas da minha linda cidade ferviam na minha cabeça.
 – Mãe, quem inventou a Cavalhada?
– Contou-me a minha avó que o dia do Corpo de Deus iniciava às sete horas da manhã, com salvas de vinte e um tiros e repique de sinos que despertavam os penafidelenses e os convidavam à festa. Às dezasseis horas, a Cavalhada era anunciada por girândolas de foguetes, saía da Rua do Carmo, extremo da cidade velha, e dirigia-se à Câmara Municipal passando pela Rua do Carmo, Direita, do Paço - onde podemos, agora, admirar o premiado Museu Municipal de Penafiel -, Largo da Ajuda, Rua Serpa Pinto e Praça Municipal.

– É por isso que não passa na nossa rua!
– O cortejo terminava com a Figura da Cidade, o delegado do povo vestido de guerreiro, com o escudo redondo em que estavam pintadas as armas da cidade de Penafiel, que, acompanhado de duas meninas vestidas de branco, era transportado num landau ou sege, puxada por duas parelhas de cavalos brancos. Uma vez chegada à porta da Câmara, esta figura alegórica erguia-se e, sem descer do carro, pedia silêncio para poder saudar os edis que se encontravam na varanda principal.
– Eu também vou nesse landau…
– Claro que vais, e é uma honra! É uma tradição criada antes dos meados do século XIX. Esta Figura é uma verdadeira personificação da cidade, representação da voz do povo que saúda, vangloria e justifica o poder municipal, e depois o encarna, triunfal, no alto do seu carro, agarrado à lança, em pose de guerreiro vitorioso pairando sobre uma nuvem de crianças.

E a mãe continuou a explicar:
– Os versos variaram um pouco ao longo dos anos. Se os primeiros conhecidos eram pessoalizados e, portanto, feitos especificamente para cada ano, posteriormente adotou-se uma fórmula mais vaga que pode ser, sem incongruência, repetida por alguns decénios. Trata-se de uma série de décimas em redondilha maior, com rimas emparelhadas e interpoladas, ao gosto da época.

“Presidente esclarecido
 Deste município honrado
É seu povo afortunado
Por vos ter elegido.
De virtudes revestido
A sua glória fazeis
Se o cargo que regeis
Deveis a vossa eleição
 Ao vosso bom coração
Ainda mais o deveis (…)”

Continua...

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