Penafiel- Unidade de AVC do CHTS comemorou 10 anos

O CHTS assinalou, ontem, o Dia Nacional do Doente com Acidente Vascular Cerebral (AVC). Um dia inteiro de debate sobre a doença, que incluiu profissionais e doentes e em que estes vieram dar o seu testemunho.
O dia serviu também para comemorar os 10 anos da Unidade de AVC do CHTS.

António Ferreira, acabado de receber a alta médica e ainda de pijama, fez questão de relatar a sua experiência, após ter sofrido um Acidente Isquémico Transitório (AIT) que, diz, o fez “repensar a vida” e irá obrigar a “alterar hábitos diários de sedentarismo”.
Já Manuel Pinto, de 59 anos, sofreu um AVC que, conta, o deixou “sem falar e sem andar durante dois dias”. Após 12 dias de internamento no Hospital Padre Américo, passou ainda um mês numa unidade de convalescença, mas ainda apresenta sequelas. “Foi aqui que me ensinaram a andar de novo”, afirmou.
Os testemunhos dos dois doentes tratados no CHTS foram secundados pelo relato de António Conceição, um dos fundadores da associação Portugal AVC, que, aos 41 anos, sofreu um AVC isquémico e que, após tratamentos intensivos de fisioterapia, terapia da fala, além de aulas de natação, insistiu para voltar ao trabalho, contrariando o prognóstico inicial de que “teria sorte se conseguisse dar dois passos agarrado a um andarilho”. Com dificuldades na fala e sequelas na mobilidade da perna e braço direitos, dedica-se hoje à associação que visa apoiar sobreviventes de AVC e os seus cuidadores, e que aposta também na prevenção da doença.

Multidisciplinariedade e especialização
A participação dos doentes e a partilha das suas experiências foi, nas palavras do presidente do Conselho de Administração do CHTS, “a melhor forma de assinalar os 10 anos da Unidade de AVC e de reunir os especialistas em volta de uma matéria tão importante como esta”. “Humanização é isto”, referiu Carlos Alberto Silva, chamando a atenção para os números que colocam o CHTS entre os quatro hospitais do País que mais casos de AVC – encaminhados através da Via Verde do AVC – recebe. De acordo com os dados do INEM, revelados em Outubro, apontavam, foram 143 casos em 2018, número só ultrapassados pelos do Hospital de São José (230) e Hospital de Santa Maria (223), em Lisboa, Hospital de São João (218), no Porto, e do Hospital de Braga (215).
Na sessão de abertura das jornadas com que o CHTS antecipou as comemorações do Dia Nacional do Doente com AVC – a data oficial é 31 de março – Carlos Alberto Silva enalteceu a coragem dos que, há 10 anos, “sem meios mas com vontade de fazer, decidiram avançar”, como referia a directora do Serviço de Medicina Interna, Mari Mesquita.
Em jeito de balanço e como forma de definir o futuro da unidade, o enfermeiro-diretor, José Ribeiro, deu conta de que a multidisciplinariedade e a especialização, como acontece com o investimento feito na “valorização do papel do enfermeiro especialista em Reabilitação” é, afirmou, a “melhor forma de reduzir a morbilidade e a mortalidade nesta área”.
Envolvendo profissionais de várias áreas, como a Medicina Interna, a Neurologia, a Medicina Física e de Reabilitação, a Enfermagem de Reabilitação e a Enfermagem Médico-Cirúrgica, além do Serviço Social e da Equipa de Gestão de Altas, o encontro tratou de temas como “Do Serviço de Urgência à alta”, “Diagnósticos diferenciais: mimetizadores e camaleões”, “O impacto na capacidade funcional – o papel do enfermeiro de reabilitação”, “Consulta de doenças cerebrovasculares”, “Ultrapassar barreiras em direção à adaptação na comunidade”, entre outros.

Unidade responsável por 400 internamentos/ano
O AVC continua a ser uma das principais causas de morte em Portugal, sendo também a principal causa de morbilidade e de potenciais anos de vida perdidos no conjunto das doenças cardiovasculares. As primeiras horas após o início dos sintomas de AVC são essenciais para o socorro da vítima, pois é esta a janela temporal que garante a eficácia dos principais tratamentos.
A Unidade de AVC do CHTS recebe, anualmente, cerca de 400 doentes e o CHTS é, como já referido, dos hospitais para onde são encaminhados mais vítimas desta patologia através da Via Verde do AVC.
Para a enfermeira responsável pela unidade, Susana Queirós, a explicação para estes números não reside, apenas, na dimensão da área de referenciação do centro hospitalar, mas, essencialmente, no estilo de vida das populações. “Somos uma região com muitos problemas com o álcool e tabaco e isso reflecte-se. Somos o quinto hospital com mais casos a nível de Via Verde do AVC”, diz a especialista.
A Unidade de AVC (UAVC) nasceu da necessidade de diferenciar os cuidados destes doentes e dar-lhe um enquadramento multidisciplinar. Em 2016, passou a ter uma equipa de internistas e tempo inteiro, um neurologista e uma equipa de enfermagem. A aposta tem passado por diversificar a prestação de cuidados. “Agora temos todas as manhãs, de segunda a sábado, um enfermeiro de reabilitação sete horas por dia para os doentes de AVC. A reabilitação, que é tão importante, começa no internamento”, salientou Susana Queirós.
Para a responsável pela equipa de enfermagem da UAVC, “quanto mais precoce for o reeducar para a marcha, o reeducar para o banho, para a fala, para as adaptações a comer, mais ganhos temos e mais facilmente preparamos a família para se adaptar em casa a esta realidade”, acredita.

Fonte da notícia- Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa

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